segunda-feira, 18 de julho de 2016

Um olhar






 Carlos trabalha em alguma empresa importante de uma grande cidade, mora em um pequeno apartamento, está economizando para adquirir uma casa com janelas grandes e um jardim com rosas amarelas. Gostava de olhar as revistas e separar ambientes que um dia ele poderá decorar com suas próprias mãos. Sonhava em encontrar alguém para dividir todo esse sonho enrustido dentro dele. 

Olga é do tipo independente, mesmo se locomovendo com a sua cadeira de rodas, também mora em uma grande cidade movimentada, sobe e desce das calçadas, sabe o valor de se locomover sozinha. A cidade grande a oferecia tudo isso. Trabalha em uma grande empresa de cosméticos, e vive em um pequeno apartamento que divide o aluguel com mais duas amigas. Seus sonhos são tão clichês que seria impossível descrever.

Sem saber os dois pegam o mesmo metrô todos os dias, ela fica no seu lugar reservado, coloca o fone de ouvido e algum livro de literatura para se distrair no trajeto de ida e volta. Ele quase sempre chega atrasado e toma seu lugar de sempre, traz consigo alguma revista de investidores ou economia para poder se atualizar.
Naquela sexta-feira de inverno, o dia parecia congelante, ele senta em um lugar diferente dos outros dias, e nunca tinha reparado no espaço priorizado para cadeirantes. De repente Olga chega tocando sua cadeira de rodas estaciona no seu lugar, trava a cadeira e coloca o cinto de segurança como de costume. Coloca seu fone de ouvido, no celular uma lista com suas músicas preferidas. Quando a música Amazing Day (Dia incrível) começa a tocar e seus olhares se cruzam e ficam fixados um no outro. Ela esboça um meio sorriso tímido e ele o retribui. Seguem viagem cada um ao seu destino sem trocar uma palavra, no entanto aquele olhar sincero ficou perdido dentro do peito de cada um deles. 

O dia segue como todos os outros e na volta Carlos tenta encontra-la , mas ela não aparece, nesse dia,  sua amiga de apartamento lhe pega no trabalho. Por dentro ela lamenta por não poder pegar o metrô e quem sabe encontrá-lo novamente. Distante um do outro eles sentem que a timidez atrapalhou aquele encontro e talvez nunca mais se reencontrem naquela cidade cheia de gente de todos os destinos e caminhos. E apenas um olhar de alguns segundos já fez cada um pensar tanto no outro. Um olhar, apenas um olhar. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.


2 comentários:

  1. Eu sou de Florianópolis, e estou casada com Eduardo, meu amor a "primeira vista" há 16 anos, agora sou cadeirante, mais na época que conheci ele, eu era caminhante. http://euemdoismundos.blogspot.com.br/

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  2. Que bacana sua história! Vou olhar seu blog com certeza e volte sempre! Beijão e felicidades! ;)

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