sábado, 9 de abril de 2016

O encontro de Natasha

Ela estava sentada no bar com sua vodka forte em um copo, cigarro nos dedos e a fumaça enchendo o ambiente que estava meia luz. Várias mesas cheias de casais, amigos que riam, bebiam, contavam histórias e  ela ali sentada, sentindo-se um pouco sozinha. Vestia uma calça jeans rasgada, tênis preto, camiseta preta e uma jaqueta fina, já que o ar da noite estava suportável. Batom vermelho, o rímel passado exageradamente e a maquiagem que marcava os olhos grandes de olhar penetrante.

Ele também sozinho na outra ponta do bar, olha o celular, checando algum e-mail que chegará. Todo certinho, bebia sua cerveja sem álcool, estava ali de passagem. O dia estressante no trabalho precisava de um lugar para relaxar, tomar algo gelado, ver gente. De repente seus olhares cruzam por relances, ele a olha de cima a baixo. Confere  o celular novamente para disfarçar e imagina o que aquela moça estará pensando. Será que seu trabalho também fora estressante, talvez também se sentisse sozinha como ele. Pensou em que nome ela teria: talvez- Natasha, Verônica. O que absorvia da vida, o que ela esperava das coisas mais simples. Será que ela sempre se vestiu assim?

Ele toma coragem, coloca o celular no bolso, pega o casaco e a cerveja e vai em direção à mesa dela.

 Vi que você está sozinha, posso me sentar na sua mesa?  

Ela olha para os olhos cinzentos e observa o quão seus olhos parecem um lago de águas mornas e escuras e um pouco atordoada responde que sim.
Os dois naquele bar, a música ao fundo, o jazz que tocava suavemente enquanto os dois trocavam gostos peculiares, trabalhos e sonhos. A cerveja, a vodka e o cheiro de cigarro estavam impregnando seu ser, no entanto ele estava gostando de toda aquela confusão de cheiros e gostos. Ela se sentiu confortável perto dele, gostou de como o som da sua voz se entonava dependendo do que ele falava. Ele viu que debaixo daquela maquiagem pesada existia alguém que um dia fora diferente. Atrás de toda aquela rebeldia existira uma garota romântica, talvez maltratada pelos relacionamentos sem sucesso. Cada palavra que ela falava e cada pensamento bobo eram como músicas em seus ouvidos. De repente suas mãos se tocam num relance e seus olhares se cruzam no mesmo segundo, uma energia boa percorre a alma dos dois. Retribuem com um sorriso sem graça.

Com o passar das horas já se tornaram amigos de infância ou (até mais). Trocam números de  telefones,  ela se despede dele. Quando se levanta da cadeira e se acomoda nas muletas que estavam encostadas na outra mesa, ele leva um sobressalto. Talvez, agora entendesse um pouco da garota que com o nome de Natasha.  Sem graça oferece ajuda, ela responde que se vira bem. Os olhos dos dois se encontram novamente intensos, como o calor do café em um dia ameno. O cheiro ainda é inebriante: do bar, do álcool misturado com o calor humano, o perfume dos dois- agora mais perto. Natasha percebe que suas mãos ficaram  escorregadias ao toque do plástico das muletas. Nunca antes  se sentiu assim.   O homem dos olhos cinzentos encosta a mão em seu braço e lhe diz: Quero te encontrar novamente. Natasha percebe que já é amor.


 Publicado originalmente no Jornal: A Novidade

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